Descaso com os Favelados
Um homem de posses fica doente,
A família logo toma uma atitude.
Usa seu caríssimo plano de saúde
E ele tem tratamento bastante decente.
Se em seu país a saúde é carente,
Procura noutro uma melhor que ela.
As altas despesas lhe são uma bagatela,
Médicos renomados assistem seu leito.
Em órgãos danificados eles dão jeito.
E aqueles que moram dentro da favela?
O que tem riquezas tem segurança,
Homens armados guardam sua casa.
Se necessitar socorro, jamais ele atrasa,
Guarda seu dinheiro onde há confiança.
Seus guardas costas com perseverança,
Conduze-o aos lugares com muita cautela.
Proteger a família é o que mais lhe martela,
Quer viver tranqüilo e muito bem sossegado,
Sem que tenha nada pra está preocupado.
E aqueles que moram dentro da favela?
Os filhos estudantes de quem é nobre,
Estudam em colégios bem renomados.
No ambiente de ensino são considerados,
Esbanjam nas festas, exageram no cobre.
Não dão nada a ninguém, ainda que sobre,
Levam uma vida riquíssima e bela.
Por isso, não conhece uma vida singela,
Desde o nascimento vivem em apogeu,
De longe, nem parece com o viver plebeu.
E aqueles que moram dentro da favela?
Os bairros dos que vivem em abastança,
As ruas são muito bem pavimentadas.
Compostas por casas bonitas e lindas calçadas,
Guardadas por homens que lhes dão segurança.
Câmaras vigiam aumentando a confiança
De um sistema seguro que não se esfacela.
Pelas ruas limpas a comunidade vela,
A coleta do lixo se faz a toda hora,
Mal estar entre vizinhos, nas ruas se ignora.
E aqueles que moram dentro da favela?
Roupas e calçados nunca faltam à nobreza,
Alimentos, remédios e rico agasalho.
Em seus caminhos não existe atrapalho,
Porque compra o que quer com sua riqueza.
Para cumprir seu luxo agride a natureza,
Sob o infame pretexto de ficar mais bela.
Quando viaja traz presente a parentela,
Bons perfumes, dos mais caros e importados,
Comem nos restaurantes mais sofisticados.
E aqueles que moram dentro da favela?
(Sebastião Barros)
02/10/2009