O Meu Lamento

Quando saí lá do Norte

E vim ao Sul buscar a sorte,

No bolso não tinha um vintém.

Mas tinha uma esperança lá no fundo

De que um dia iria conquistar o mundo,

Um dia eu seria alguém.

Embora tivessem me lembrado

Com um jeito assim meio assustado

De que aqui eu não conheceria ninguém,

Eu parti deixando para trás os meus,

Parti fazendo uma prece a Deus

Para que tudo corresse bem.

Eu que era só esperança

Até parecia uma criança

Que ganhara um novo amigo,

Esse dia guardo com saudade

Pois eu acho que a felicidade

Ficara de mal comigo.

Quando cheguei na tal cidade

O que eu ví foi só maldade,

Pensei que isso aqui não existia.

Mas andei sem olhar para trás

Pois a vida é aqui que se faz,

Mas não era isso que eu via.

Crianças vendendo limão no farol

De baixo de chuva e de sol,

Sem terem o que comer.

Umas com a saúde comprometida,

Outras que já caíram na vida

Para poderem sobreviver.

E quando me ví em meio à multidão

Eu já estava na mesma situação,

Pois não tinha onde ficar.

Eu já não queria mais a fama,

Eu só queria uma cama,

Um lugar para morar.

Finalmente conseguí um emprego

Pensei que teria sossego

E meu sonho iria realizar,

Mas meu salário era mínimo

Isso não é salário digno

De quem vive a trabalhar.

Por isso quando me perguntam a solução

Eu respondo que é a conscientização,

Só assim todos teriam moradia.

Juntos patrão e empregado

Vocês veriam o resultado,

Mas dizem que isso é utopia.

Agora falam em Rei e Parlamento (*)

Ninguém escuta o meu lamento,

Mas eu não canso de gritar.

Meu grito não é novo

É o grito de um povo

Que não se cansa de esperar.

E na esperança de encontrar a sorte

Muitos já encontraram a morte

Sem seu sonho realizar,

E quando me lembro de tamanha malvadeza,

Quase morro de tristeza,

Quase morro de chorar.

(*) poesia escrita em 1993, em meio a campanha da fraternidade "Onde Moras ?" e as vésperas do plebiscito que determinaria a Forma e o Sistema de Governo que o Brasil adotaria (Monarquia, Presidencialismo ou Parlamentarimo).

Paulinho Sorrentino
Enviado por Paulinho Sorrentino em 29/09/2009
Reeditado em 03/01/2014
Código do texto: T1839153
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