FATALIDADE
Ao passar pela rua,
vejo a mulher com seu filho no colo
pedindo esmola.
A mulher desanimada,
espalma cansada
a sua mão enrugada
( não pela idade, pois apesar de angustiada,
seu semblante expressa jovialidade),
São mãos trabalhadas...
No meu peito, neste momento
meu coração parece ruir
e num gesto inconsciente,
páro, agacho e pergunto:
- Por que a este ponto chegaste?
E ela com ar de humildade
( outros estariam revoltados),
responde com a voz de saudades:
- Uma fatalidade me visitou;
Primeiro, embruteceu a outra parte de mim,
Depois, afastou essa parte de mim e do meu filho,
até que um dia o trouxe de volta
num estado terminal de penúria e inutilidade,
Mesmo assim eu o acolhi,
pois naquele momento, dependia de mim...
Sem poder sair da cama,
foi refletindo a condição imprestável a que chegou;
Gritou, esperneou, desculpou e chorou...
até que um dia,
em que desejou e sonhou,
ter uma vida sadia
buscando os valores reais
a que o Criador nos designou,
Amanhece inerte, e frio,
a fatalidade o levou...
- O que? Ou quem é essa fatalidade?
- São a bebida e os tóxicos, seu moço...
Levou a outra parte de mim,
deixando a outra parte dele ( o filho ),
Porém, sem um teto, sem comida,
agasalho, carinho, amor...
Deixou de herança,
a miséria, a saudade
e a esperança de que
a vida não é assim...
Doni Leite
Agosto/2000