FAZENDA BRASIL

Ó, mãos que afagam o meu ser!

Quantas vezes fizestes de mim

Teu escravo em fuga

Acorrentado ao tronco da subordinação

Ó, mãos que massageiam o meu ego!

Batestes-me até o sangue vir ao chão

Sangue este que gerou muitos filhos

Filhos bastardos para escravidão

Sou teu e não meu

Ó, meu Brasil varonil!

Estou na cidade portuário

Sou vendido qual rês do teu curral

Tenho o selo da tirania

Do meu feitor sou capataz

Do meu senhor da fazenda grande

Sou gado marcado

Do passado obscuro tentaste esconder

E qual bloco de gelo ao sol do semi-árido

Tua máscara derrete,

No entanto, outra é posta no lugar

A presença da tirania é notória

Em tempos de aldeia global,

Mas sou mesmo ovelha do teu curral

Ás margens do Ipiranga

Não se ouve o grito da independência

Nem o júbilo da autonomia

Ouve-se o júbilo da diplomacia

Às margens de rio algum

Ouve-se a voz de mais um

Sedento, solitário,

Miserável produto da indústria da seca

A tua carne, ó Brasil!

Não serve para exportação

A não ser a carne que alimenta a prostituição

Essa sim, é exportada, massacrada.

Aderlan Gonçalves
Enviado por Aderlan Gonçalves em 29/09/2009
Código do texto: T1837908
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