MÁQUINA DE ESCREVER....

[Carlos Drummond de Andrade...]

Diante da máquina de escrever

Sua’alma profunda, transparente...

E seus olhos distantes,

Perto dos sentimentos humanos,

Dos mais miseráveis sentimentos,

Sem medo de indagar

A hipocrisia

Das tristes falhas humanas...

Doa a quem doer

Suas palavras afiadas

Como da fina lâmina d’uma navalha,

O enorme desejo de matar

Tudo que torna o homem mesquinho,

Corrupto

A própria raça.

Em êxtase

Suas mãos calmas separam,

Cuidadosamente, a alma

Da lama podre do mundo...

E respira, aliviado

Como quem retira dos ombros

Um vasto fardo...

Ainda que seja de su’alma

Para a brancura do papel

Que liberta sua voz

Nas teclas rígidas

Da máquina de escrever...