MADRUGADA

No meio desta cidade que pulsa ao redor

A saudade dói e corrói como ácido

O vento da madrugada uiva nos meus ouvidos,

batendo de encontro ao rosto

Aguçando o sexto sentido

Máscaras de granito e ferro

Luzes frias e insensíveis balouçam

Passos ressoam na calçada

Risos vagos e ilusórios

Mulheres vendem o corpo por migalhas de amor

Seres indefinidos e tristes

A marginália circula livremente

O racismo salta aos olhos dos homens da Justiça

E, ser negro é crime!

A cor da pele o estigmatiza

A chacota e o ridículo doem mais que mil chibatadas

ou ferro ardente em brasa

Os bêbados vomitam verdades no rosto da sociedade perplexa

Os órfãos do destino imploram pão

ao cavalheiro que passa impassível e célere

Moedas piedosas caem em minhas mãos

Palavras de escárnio e "conforto"

Sou mais um inválido

Cego ... e terrivelmente só

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Enviado por JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES em 25/06/2006
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