MADRUGADA
No meio desta cidade que pulsa ao redor
A saudade dói e corrói como ácido
O vento da madrugada uiva nos meus ouvidos,
batendo de encontro ao rosto
Aguçando o sexto sentido
Máscaras de granito e ferro
Luzes frias e insensíveis balouçam
Passos ressoam na calçada
Risos vagos e ilusórios
Mulheres vendem o corpo por migalhas de amor
Seres indefinidos e tristes
A marginália circula livremente
O racismo salta aos olhos dos homens da Justiça
E, ser negro é crime!
A cor da pele o estigmatiza
A chacota e o ridículo doem mais que mil chibatadas
ou ferro ardente em brasa
Os bêbados vomitam verdades no rosto da sociedade perplexa
Os órfãos do destino imploram pão
ao cavalheiro que passa impassível e célere
Moedas piedosas caem em minhas mãos
Palavras de escárnio e "conforto"
Sou mais um inválido
Cego ... e terrivelmente só