quantos anos você tem?
- não sei porque você é assim.
- assim como?
- falando de coisas do passado,
dizendo que o que era antes era melhor.
- o que é hoje é melhor,
mas o que era antes era também, naquele tempo.
- bem, aí melhorou um pouco.
- a questão é que já não vou me enquadrando muito
neste tempo de agora, por isso acho melhor o que era antes.
- sim, mas não é inútil pensar assim?
- acho que é, mas não consigo pensar de outra forma ...
- e nem tenta? Continue.
- sei que no futuro vão acabar com o papel,
os livros estão com seus dias contados, tudo se resolverá no meio digital e em telinhas cada vez menores.
- o progresso é irreversível.
- mas não dá gosto folhear um livro?
Ir com ele pra cama, pra varanda, pro vaso sanitário, pro sofá?
- é, mas os jovens que forem crescendo sem o papel, sem os livros,
se habituarão e não sentirão essa necessidade.
- como não sou mais tão jovem e não há porque me habituar,
sinto ainda a necessidade.
- está então satisfeito com a possibilidade do seu desaparecimento,
já que estará cada vez mais desabituado com o novo lugar-comum?
- com a possibilidade do desaparecimento, não. Mas com a certeza, sim. Não será um modo de regeneração? Contemplar a própria finitude?
- é. Meio transverso, mas acho que sim.
- talvez seja uma chance de nos conhecermos um pouco mais.
- quantos anos você tem?
- você já se habituou com essa pergunta?
Rio, 17/09/2009