A Profecia

Isaías disse:

“Virá o dia da felicidade

e da justiça para todos”.

Pô, mas como custa a chegar, héin!

Maluquice o que falou?

Devemos desacreditar

ou seguir acreditando

que isso possa acontecer?

Ou malhar em ferro frio

até quando anoitecer?

A semente da esperança

ir plantando no terreno

cujo imposto inter-vivos

não pagou o Nazareno.

E por isso a propriedade

foi entregue pelo fisco

ao empresário mais arisco

que um prédio ali botou.

Onde o galo já cantou

só se vê carro importado,

segurança, deputado.

Carro de trabalhador

só está autorizado

a parar do outro lado

da calçada, onde a menina

teima e vende a bananada

antes que o sinal vermelho

fique verde outra vez.

O quê dirão as andorinhas

que perderam as suas árvores

ou perderam a sua vez?

E aquelas criancinhas,

filhas dos peões de obra,

que só comem quando sobra

ou terão o que comer

quando a bela imperatriz

o brioche oferecer?

Essa tal felicidade,

como custa a aparecer!

E quanto a tal da justiça,

talvez o nosso Isaías

tenha algo a nos dizer.

Rio, 16/05/2006