GAROTO DE PROGRAMA OU AMOR NA MARMITA


Há sedução no seu jeito,
enquanto a desilusão dos desafetos
passeia nas calçadas da avenida.
Despudorado, à luz do poste,
expões teu troféu no maior volume
como se o queixume dos carentes
se contentasse na visão que presume.
Como se a canção do rádio entoasse o
"será que sou feia, não é não senhor"!
Furor: a imensa avenida aconchega fragmentos
de solidão dorida, onde a sorte pode ser derradeira e
o amor começa e termina na contração da musculatura.
Arquitetura do impulso instintivo, lenitivo
do amor a varejo, onde o certo não tem preço,
o errado nem pede perdão:
“ajoelha” mas não reza o terço...
O rapaz passou, a moça passou, o traveco passou...
Passou o enrustido,
No carro à luz sobranceira, enquanto
perde-se no asfalto o destino dos corajosos,
posto que o medo é o degredo dos sem opção.
O coração palpita e novamente à luz do poste
retornas com coragem.
Um passante te solta um desdém
enquanto amanhece o dia,
enquanto tua Maria te espera,
enquanto tua mania descerra a máscara
do amor que a SUNAB não autua...
Enquanto teu filho espera em casa o afeto
do pai notívago vendedor de ilusões a granel...

CARLOS SENA, DOS ARRE (DORES) DE BOA VIAGEM, NO RECIFE-PE