(imagem Google)


Levanta Florisval Chegou Seu Alvará


Levanta Florisval chegou seu alvará, não perca muito tempo já tem outro pro lugar, aproveita essa chance que é se libertar das garras do sistema que não hesita em castrar;

Florisval pensa consigo, onde é que vou morar, a polícia me persegue, não tenho onde ficar, os meus filhos estão com fome, tenho que trabalhar, mas minha ficha está suja não vão me aceitar;

Andando e pensando aonde veio parar, viu por instante sua vida acabar, foi jogado em uma cela com quarenta pra ficar, onde metas não existem, muito menos o sonhar;

Florisval olha pra trás segurando o alvará, agora só a sorte é que tem que imperar, procura sua família que não fora lhe buscar, lembra do ocorrido e tem vontade de chorar;

Havia chegado cedo, na favela o seu lugar, que mora desde criança, seu verdadeiro habitat, entrou em seu barraco, os seus filhos a lhe olhar, beijou cada um deles e foi fazer o jantar, sua mulher lhe ajudando pôs feijão pra cozinhar;

Trabalha como carteiro, muita carta pra entregar, sempre foi seu sonho nos Correios trabalhar, comprou uma bicicleta para parar de tanto andar, pelas esquinas e vielas até não agüentar;

De repente a porta cai, a polícia a gritar, perguntando por sicrano que não mora mais por lá, Florisval saiu do banho, os seus filhos a tudo olhar, e foi logo dizendo que o dele é trabalhar, levou logo um sopapo, pobre não pode falar, não tem advogado, nem dinheiro pra arranjar;

Florisval que um pouco sabe, reclamou do tratamento, disse que era honesto e não era um jumento, aqui só com mandado pra na minha casa adentrar, eu sou muito pobre, mas sei me informar, procurem pela casa, nada vão encontrar, somos muito honestos e só faço trabalhar;

A pancada foi mais forte, e a polícia a falar que se não achou sicrano ele vai no seu lugar, ali quem manda são eles, a porrada é a lei que há, abuso de autoridade é constante no lugar;

Florisval levou dois chutes, e começou logo a sangrar, o jogaram no chuveiro para o roxo não ficar, olhando pros seus filhos começou a se conformar, com sua nova condição, eles vão lhe aprisionar, o jogaram no camburão e logo saíram de lá;

Chegou à delegacia o delegado estava lá, gritando com um pai de família que só fazia escutar, não acharam sicrano que não morava mais lá, arranjaram uma arma para poder autuar, o pobre de um carteiro que no presídio vai morar;

Saindo da delegacia apanhou mais um bocado, lembrou de sua família e de todo o seu passado, o jogaram em um cubículo, sujo e apertado, fora chamado de ladrão, seus documentos foram rasgados, quanta humilhação com um simples trabalhador, que só fazia entregar carta, esse é o seu labor;

Mas os bandidos de farda, ao o deixarem na prisão, retornaram na favela abordando cidadãos, procurando por sicrano encontraram um corpo no chão, era o dito procurado, com três tiros no pulmão, foi abatido horas antes, por um bandido do lugar, era dívida de droga, não tinha como evitar, o carteiro que não trafica e vive de trabalhar, agora estava trancado, em um presídio a penar, esperando advogado que nunca vai chegar, foi agora libertado, pra voltar pro seu lugar, viver a sua vida, sua família sustentar, flores só no nome, espinhos é o que há, Florisval é um exemplar de uma pessoa pobre que não tem com quem contar, vive em uma favela, onde justiça não há, direito é ilusão só pra quem pode comprar; 

O alvará não é a real libertação pra acabar com o preconceito e com toda humilhação, Florisval nasceu pobre e na favela foi morrer, lutando contra um sistema que não tarda em tolher.

Essa poesia dedico a todos aqueles que vivem em comunidades,local onde o que impera é o abuso e a desconfiança a tolher dia a dia seus sonhos e sepultar suas dignidades paulatinamente, pessoas que não possuem o direito de viver honestamente, o direito de ser gente, pois a justiça possui vendas, mas, não é cega não senhor, ela enxerga demasiadamente bem, raça,cor, credo, e posição social,ser advogado criminal me mostrou um mundo longe do qual fui criado, do qual vivi e cresci, mundo o qual o que impera é a lei do mais forte e dos mais diversos abusos de autoridade, mundo repleto de torturas físicas e morais,hei de ser advogado criminal eternamente...

O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 28/08/2009
Reeditado em 12/02/2011
Código do texto: T1780191
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