MATO AD ENTRO – 3
"Nos embalos de um sábado ensolarado em Sampa, na avenida São João..."
________________________________________________
Um batedor de carteiras
chegou rapidamente
parou na minha frente
__ agiu intransigente como se fosse sábado!
Sonho os tempos de poeta,
o tempo é todo feito para sonhar.
O ladrão daquele momento
é fruto e consequência do descontentamento
do povo daquele lugar.
Sonha povo,
o tempo ainda te levará para outro lugar.
O espaço físico e mental da gente
é direcionado pelas televisões,
eles nos carregam para onde querem
sugam, se preferem...
ou nos calam
diante de milhões de vidas,
d e s c a b i d a s v i d a s... línguas feridas...
Olho no olho da telinha preferida
ou emudecer-se
ida e despedida...
A cidade sonha calada com o avesso do seu passado!
Bons tempos aqueles em que o futebol era jogado dentro do campo,
peladas na avenida,
várzeas,
platéias aguerridas.
Bolas de meia, bolas de gude ou
rosas despetaladas.
O esporte não era mais do que questão de sorte,
saúde, vitalidade, amiúde.
Hoje em dia,
o avassalador labirinto do futebol
fatura
de sul a norte
milhões de milhares de dólares
à custa de um povo humilde
sofrido,
apunhalando inocentes
buscando o topo da chama,
aos poucos que alcançam fama.
__alguns, felizardos, jogam bonito, possuem apelido,
outros,
são destinados a morrer em Guará
ou em cidades de qualquer lugar,
sem mesmo terem saído de lá,
ou tentado desfilar seu jogo,
introspectivo,
espetacular.
A natureza, inexoravelmente
dá e tira da gente...
É uma gruta desconhecida,
um rio descoberto em pânico
c a c h o e i r a s
cascatas
t a r r a f a d a s...
e assim vamos doutrinando nossos peixes
pelo seu tamanho ou pelo tamanho da nossa coragem.
E por fim
espeta-nos uma troca inevitável,
azul da cor do céu,
azul, azul, azul, azul, azul,
Você quer um misto quente, bauru ou pastel?
Vermelho poente,
você sofre de asma ou dor de dente?
As cores lindas das cachoeiras de água doce,
dos riachos por aí,
trocam-se por estradas, argilas não transformadas...
Cardumes de mexilhões, tucunarés e tubarões,
Badalam-se em restaurantes finos...
Na placenta da nossa cidade
habitam estranhos inquilinos...
AVIENLYW
(23/10/1983)
"Nos embalos de um sábado ensolarado em Sampa, na avenida São João..."
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Um batedor de carteiras
chegou rapidamente
parou na minha frente
__ agiu intransigente como se fosse sábado!
Sonho os tempos de poeta,
o tempo é todo feito para sonhar.
O ladrão daquele momento
é fruto e consequência do descontentamento
do povo daquele lugar.
Sonha povo,
o tempo ainda te levará para outro lugar.
O espaço físico e mental da gente
é direcionado pelas televisões,
eles nos carregam para onde querem
sugam, se preferem...
ou nos calam
diante de milhões de vidas,
d e s c a b i d a s v i d a s... línguas feridas...
Olho no olho da telinha preferida
ou emudecer-se
ida e despedida...
A cidade sonha calada com o avesso do seu passado!
Bons tempos aqueles em que o futebol era jogado dentro do campo,
peladas na avenida,
várzeas,
platéias aguerridas.
Bolas de meia, bolas de gude ou
rosas despetaladas.
O esporte não era mais do que questão de sorte,
saúde, vitalidade, amiúde.
Hoje em dia,
o avassalador labirinto do futebol
fatura
de sul a norte
milhões de milhares de dólares
à custa de um povo humilde
sofrido,
apunhalando inocentes
buscando o topo da chama,
aos poucos que alcançam fama.
__alguns, felizardos, jogam bonito, possuem apelido,
outros,
são destinados a morrer em Guará
ou em cidades de qualquer lugar,
sem mesmo terem saído de lá,
ou tentado desfilar seu jogo,
introspectivo,
espetacular.
A natureza, inexoravelmente
dá e tira da gente...
É uma gruta desconhecida,
um rio descoberto em pânico
c a c h o e i r a s
cascatas
t a r r a f a d a s...
e assim vamos doutrinando nossos peixes
pelo seu tamanho ou pelo tamanho da nossa coragem.
E por fim
espeta-nos uma troca inevitável,
azul da cor do céu,
azul, azul, azul, azul, azul,
Você quer um misto quente, bauru ou pastel?
Vermelho poente,
você sofre de asma ou dor de dente?
As cores lindas das cachoeiras de água doce,
dos riachos por aí,
trocam-se por estradas, argilas não transformadas...
Cardumes de mexilhões, tucunarés e tubarões,
Badalam-se em restaurantes finos...
Na placenta da nossa cidade
habitam estranhos inquilinos...
AVIENLYW
(23/10/1983)