Gente Miúda
Corre criança, corre
Corre com os pés livres do chão
Olhar sorrindo, estendendida mão
Ganhando sua vida, pedindo pão
Debilitado corpo, vibrante coração.
Pequenas vítimas de governante esperto
Carinha suja, sorriso correto
Vive sorrindo sob céu aberto
Caminha trôpego pra um futuro incerto
Adorado num altar
Pixote na tela
Nem pensa na glória
Só na vida que é bela
Seu escuro caminho,
A sua aquarela
Chore pequena gente
Chore para o mundo te ouvir
Grite para essa gente grande
O seu incerto porvir
Não peça por sua fome
Peça para onde ir
Menor carente
Pobre e assustado
Vive sorrindo no meio da dor
Foge do frio, corre da fome
Morre de medo e desamor
Está na rua ao amanhecer
Lavando carros, lavando a vida
Vai pra escola e não sabe ler
Embora com a vida tudo aprenda
Melhor que os livros é a comida
Melhor que as aulas é a merenda
Pequeninos órfãos de todos nós
Nós te amamos mas nada fazemos
Nos orgulhamos de um cão de raça
Mas um carente nós não queremos
Voe menino como um passarinho
Fuja desta vida desgraçada e pobre
Emigre para um lugar onde tenha um pouco mais de carinho
Onde a gente grande seja mais bondosa e nobre
Lute pela infância tão desrotejida
Conserve sua humildade de natureza inculta
Não cresça nunca, nem se torne grande
Não seja mais uma pessoa hipócrita adulta
Moço, eu cresci
Já sou quase grande
Não sou mais aquele pivete infantil
Hoje sou mais respeitado
Tenho pomposo nome
De delinqüente juvenil
Fugi de casa e tinha outro nome
Mas hoje já não lembro qual era
Fui batizado muitas vezes e com nomes importantes
Fui trombadinha, , carente, pivete, pixote e tal
Hoje já sou grande do tamanho dos adultos
Já saí até no jornal
Engraçado!
Meu nome masi uma vez foi trocado
Hoje os adultos, assim como eu, me chamam de
Marginal.