Lélé

Nas ruas o cachorrinho Lélé passeava observando tudo. Será que ele teria alguma chance algum dia de desfrutar de um pouco de carinho e atenção dos transeuntes daquele bairro chic?
Ele era de pequeno porte, mas o faro, o faro era indiscutivelmente o melhor, conseguia farejar até mesmo debaixo de “cascalho”.
Faltava-lhe apenas treino, melhor, treinador, mas isso não era obstáculo para ele.
Todo o dia acompanhava as viagens dos cachorros dos quintais das fazendas circunvizinhas.
E de longe e nem tão longe assim, ele acompanhava o treinamento dos cachorros dos quintais, eles possuíam coleiras, tinham os cochinhos para a alimentação diária e bebiam água das nascentes. Viajavam para lá e para cá, e nos finais de semana, iam no banco da frente dos carrões de seus “donos”. Lélé entrou em algumas disputas com os cachorros vira-latas e saiu-se muito bem, isto chamou a atenção dos transeuntes ao que passaram a dar maior atenção para Lélé. Na maior fazenda do bairro acontecia periodicamente assaltos, os cachorros treinados não davam jeito, então os transeuntes “acostumados” com os latidos fortes de Lélé, pediram uma chance para o pobrezinho, mas e o treino?
Ah, não foi obstáculo, em pouco tempo ele demonstrou toda perícia que aprendeu escondido.
Então, o portão da grande fazenda abriu-se para ele, e por algum tempo manteve-se como um cachorro de raça, mas ele não suportou às investidas de vira-latas, os seus amigos, de rua.
E a grande fazenda passou a ser o quintal de rua para alimentar os tais cachorrinhos amigos de Lélé.
O fazendeiro não sabe o que fazer, nenhum cachorro consegue dar jeito. 
E os transeuntes?
Ah... Os transeuntes, eles são apenas expectadores, pessoas que não tem nada com isso.
Pra que defender uma fazenda que é quase inteiramente devastada, desmatada e que vem sendo sucatada por esses ladrões que, cachorro nenhum consegue dar jeito? O transeunte?
Ah. É apenas expectador... Quem liga?



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