PROLETÁRIOS
Coletivos lotados, correria.
Ele vence os obstáculos
que o separam da serralheria.
Ela se desencanta
ao ver pelo espelho
suas rugas tantas.
Ele tem os braços doridos
ao manejar a ferramenta
com pensamentos sofridos.
Ela liga a televisão
e inicia o ritual diário
de sua triste alienação.
Ele abre a marmita aquecida
e mata a fome com saliva
diante da perda da comida.
Ela come tomates em salada
e sobre o banco de pau
apóia as pernas inchadas.
Ele supera toda a tarde
produzindo e ignorando
a dor que pelo corpo arde.
Ela o espera à janela
do miserável barraco
sito ao centro da favela.
Eles se recolhem, indiferentes.
Ele, cansado, não quer amar.
Ela, frustrada, dorme a rezar...