Esse Homem

Quem engravida a terra fértil com a semente

e acalenta a infância frágil das espigas?

Quem cede o suor pra sede plena da lavoura

e ombreia a safra com paciência de formiga?

Quem é que sofre a gestação da messe alheia

e a incerteza do amanhã na mesa aflita?

Quem colhe o ouro inacessível da colheita

e vive a fome operária das marmitas?

E quem semeia a cidade com tijolos

pra gerar prédios nos canteiros de concreto,

povoando extensos corredores de asfalto

com espigões que amadurecem desafetos?

Quem desafia as altitudes da ganância

e se equilibra nos andaimes salariais?

Quem planta estrelas de néon num céu de vidro

e vive a fome no desterro dos rurais?

Por esse homem que tem mãos de gerar sonhos

e colhe, sempre, a realidade das esperas,

meu canto insone faz vigília nos poemas

e brande adagas nas trincheiras da miséria.