Lira da Vida II - "Vida que despedaça"
Vida que despedaça...
(quantos degraus restam na escada da paz?).
Na mordaça
(silêncio desses tempos, que tempos, que raça?)
Cala-se o pobre na favela!
(como dantes, o negro na senzala)
Grita e marcha a gente que vive no asfalto!
(como os senhores da casa grande, agora em prédios, fortalezas, basalto)
Mas para que serve a vidraça?
(daqueles tempos de janela, de seresta e graça)
Blindagem, escudo, à prova de qual desgraça?
(clamam por justiça e rangem os dentes da indiferença)
Como pode um povo esquecido
(ainda que cantado em berço esplêndido, porém nunca dantes adormecido)
Ser espoliado, de sua condição de básica de existência?
(porquê tamanha determinação? Nesta presença constante da ausência! Ausência do Estado, de ti, de mim, de todos.)
Toda vida que se despedaça,
Seja nos goles de cachaça,
Ou na fome que destrói e ameaça,
Na AIDS que na África dizima a raça,
Na violência que oprime, mata e gera desgraça
Na ausência, desigualdade, abandono, na desesperança
É uma parte do tecido social que se esgarça
É uma morte anunciada que nos amordaça...
AjAraújo, o poeta humanista.
“Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz." Madre Tereza de Calcutá