Prisioneiro do tempo

Sou prisioneiro do tempo

Percorri vielas de pedras

Onde marchavam legiões romanas

No caminho parou-me um soldado

Estranhou minhas vestes

Indagou a que tribo pertenço

Entre milhares de conquistas

Serei servo ou escravo?

Sou prisioneiro do tempo

Com ele naveguei nas marés

Naus vikings ou fenícias

Gente do oriente ou galês

Sou prisioneiro do tempo

Lutei em batalhas históricas

Atravessei épocas, epopéias

Da tragédia grega ao circo romano

Sou prisioneiro do tempo

No Monte das Oliveiras

Testemunhei o surgimento do Cristo

E chorei na via-sacra do Messias

Sou prisioneiro do tempo

Fui com Marco Polo até a China

Com Colombo ingressei no novo mundo

Nas caravelas portuguesas cheguei à Índia

Sou prisioneiro do tempo

Do absolutismo às cruzadas

Do fogo da inquisição à reforma de Lutero

Do iluminismo às guerras mundiais

Sou prisioneiro do tempo

Do fim do regime feudal

Ao surgimento da revolução industrial

Do trem a vapor ao colonial domínio

Sou prisioneiro do tempo

No século XX, vi aumentar a intolerância

Do extermínio de milhões do povo judaico

Da bomba de Hiroxima às prisões da Sibéria

Sou prisioneiro do tempo

Vi o genocídio de coreanos e vietnamitas

Refugiados bósnios, africanos, curdos

Nas lutas separatistas e por ódio étnico

Como prisioneiro do tempo

Com as amarras nos ciclos históricos

Sofro ante a repetição dos dramas humanos

Onde não se pode culpar o tempo tampouco o destino.

AjAraújo, agosto de 2009.