PORTA DOS FUNDOS

O mundo das ruas da cidade grande

é pequeno.

Os pombos cagam na minha cabeça.

Tem cheiro de merda o que escrevo.

– Nada é mais bonito que o sol sobre o Guaíba –

diz o panfleto turístico que o menino entrega

no lusco-fusco da tarde de outono,

Sinto o cheiro de maçãs,

frutas podres do Mercado.

Apanho o que foi rejeitado

pela burguesia.

O homem de sobretudo e chapéu

come maçãs com faisões à caçarola.

O olor entra pelas narinas.

Sou sempre eu

o da porta dos fundos.

– Do livro O POÇO DAS ALMAS. Pelotas: Universidade Federal, 2000, p. 104.

http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/175769