Inquietude
Alguma coisa estranha
anda rondando o país:
Nos braços do estivador,
nos beijos da meretriz;
no cantador de cordel,
nas previsões da vidente,
espalha-se feito peste
e toma conta da gente...
Conspira nos botequins,
bate na porta das casas,
faz procissão nos confins,
desperta o sono das brasas...
Há um perigo constante
de que um dique arrebente
e o velho rio da esperança
cause uma nova enchente...
Anda inspirando o poema,
sofrendo o a fome das vilas;
pegando trem no subúrbio,
perdendo a vida nas filas.
Vive descalço nas praças,
gastando a infância nos morros,
vendendo as moças as docas,
e, às vezes, pede socorro...
É um festim e mendigos,
é um motim de guitarras
onde se insurgem profetas,
onde ressurgem cigarras.
É o cotidiano das ruas
numa comédia febril
e, às vezes, vira tragédia
pelos sertões do Brasil.
Há uma inquietude no povo,
que a notícia não diz,
de ir pra rua de novo
e refazer o país