Nas Entrelinhas do Show

Pelos cortiços dos becos,

no vai-e-vem do metrô;

pelos balcões dos botecos,

nas entrelinhas do show...

No lado pobre do povo

os sonhos se despedaçam

e um vento sopra, de novo,

na insensatez dos palácios.

É a bailarina do morro

que não possui sapatilhas,

o estudante faminto

que não aprende a cartilha.

- Uma angústia de esporas

nas cicatrizes da doma. -

É um palhaço que chora

num picadeiro sem lona.

Na histeria do estádio,

no samba-enredo da escola,

no som das ondas do rádio,

no gol que sonha na bola:

Uma estranha alegria

que faz o povo feliz:

No ópio da fantasia,

a embriaguez do país.

É o menino de rua

que cola a infância no vício,

nossas meninas tão nuas

crucificadas no ofício...

É o pedreiro, sem casa,

na corda bamba do andaime

que, às vezes, voa sem asas

e se liberta da fome.