Sou povo
Sou povo de pés no chão e suor no rosto, de olhos vivos e pele seca.
Sobrevivo do fragmento que o Doutor concebe como resto.
Vivo de labuta, de pouca vontade; com as mãos calejadas e o olhar sofrido.
Sou filho da esperança, da boa vontade de nosso Senhor, peregrino em terra alheia com certidão de nascimento doada pelo governo, que diz nas entrelinhas: Cangaia dos poderosos.
Sou povo que vive as margens, de sonhos dilacerados, com boca desdentada, invariavelmente; mais um.
Com um português que fumo, que nois, de vridro, sem concordância, sem artigo ou preposição.
Mas! Sou visto: Feixe a porta do carro, pode ser um ladrão.
Sou povo trabalhador, de gosto simples, de vontade pouca, de sonhos tristes.
Sou um que Vossa Senhoria chama por assovio, um vem cá seu Zé.
Eu, por educação Ada pelos subúrbios da vida digo: Ao seu dispor!