A poesia é que fala da vida!
O poema ronda
e por aqui anda,
sim, a poesia
...
Meio tonto, meio louco,
Li há pouco e entristeci
- A poesia mais não anda por aqui
Morrera no milênio anterior, 1994
No pavoroso genocídio de Ruanda
Não morrera em hiroshima
Sequer em Nagasaki nem
E já falávamos de rosas torturadas
Elas já ensaguentadas, desnaturadas
Não morrera antes nos cárceres todos
Em que a mediocridade vencera
A desumanidade enclausurara
Ou escravizara quem perdera
Ou matara, sem poder explorar
Era até um dia sem sol, plúmbeo
Um frio de arrepiar as almas
Como chegasse a ceifa ao ouvido
E repetisse, sussurrosa, rancorosa
- Não te esqueço, não te olvido
Ela, que depende dos vivos!
E vem esse escrito dizer-me
Como em um poema, um grito
Que já apenas desde Ruanda,
A poesia por aqui não anda...
Bem... a poesia fala do amor
Fala à amada, fala das flores,
Das belezas e glórias,
Fala das mais reclamadas dores
Não esquece do horror
Das desditas sentidas,
Da desumanidade percebida
Das injustiças das lidas.
Então, a poesia está aqui,
mesmo a doloridas penas
presente, pressente-se.
É a poesia que nos fala da vida!