MARGINAL
Enquanto descia o sangue pelo pescoço
Lembrei dos meus dias
Retrato envelhecido
Meus muitos segredos guardados
E pelo tempo enegrecido
As gotas ferviam em mim
Grandes e longas manchas
De uma cor carmim
Arqueado, e com as mãos... Apoiado
Lamentei que a dor já mal fizesse
Eu era torpe engodo revestido de vida
Adiantava nada estancar esse sangue
E deixar arder à mesma ferida
Olhei o chão uma última vez
Com medo de olhar o céu pela primeira
Minha morte agora era lança certeira
Nunca dei valor ao barulho da chuva
Nem a melodia da natureza
Em algumas vidas o barulho da arma
É a única certeza
O sabor do meu fim já amargava a boca
A mesma que muitas vezes pra blasfemar eu usei
E que nesse mundo agora tão lindo
Para amar e beijar nunca liguei
Sempre fui da vida, a sombra
Do caminho, à margem
Dos destinos, fui algoz
Sem remorsos
Sem pena
Sem nunca desatar os nós
Um derradeiro tiro dilacera
Maltrata
Machuca
E meu mundo... Encerra!