MARGINAL

Enquanto descia o sangue pelo pescoço

Lembrei dos meus dias

Retrato envelhecido

Meus muitos segredos guardados

E pelo tempo enegrecido

As gotas ferviam em mim

Grandes e longas manchas

De uma cor carmim

Arqueado, e com as mãos... Apoiado

Lamentei que a dor já mal fizesse

Eu era torpe engodo revestido de vida

Adiantava nada estancar esse sangue

E deixar arder à mesma ferida

Olhei o chão uma última vez

Com medo de olhar o céu pela primeira

Minha morte agora era lança certeira

Nunca dei valor ao barulho da chuva

Nem a melodia da natureza

Em algumas vidas o barulho da arma

É a única certeza

O sabor do meu fim já amargava a boca

A mesma que muitas vezes pra blasfemar eu usei

E que nesse mundo agora tão lindo

Para amar e beijar nunca liguei

Sempre fui da vida, a sombra

Do caminho, à margem

Dos destinos, fui algoz

Sem remorsos

Sem pena

Sem nunca desatar os nós

Um derradeiro tiro dilacera

Maltrata

Machuca

E meu mundo... Encerra!

luis lopes
Enviado por luis lopes em 21/07/2009
Código do texto: T1710702
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