O homem é o lixo do homem

*O homem é o lixo do homem

Aporéticoesqueleticamente se vai.

O pé sobre pedras, histórias, papeis e líquidos,

o outro sobre cacos, cascas, lascas e chão,

coração transportado para os olhos e a mão

- roto – cujos excrementos se misturam

com uma ligeireza abominável.

O olfato e o paladar imunes aos “Ahs” e “Ohs”

dos que têm, destarte, sentem – o que convém.

A mão cega, melada, seletiva, calada, pegajosa

trabalhadora fiel, no seu ofício diário e secundário,

escrava da boca raivosa, preta, ferida, fedorenta,

com seus quarenta dentes ausentes

e uma gengiva que mastiga,

corolário das leis de Lamarck.

Lama, trama, clama por uma gota

na caixa de leite vazia,

solitária-solidária – porque leite ainda havia.

Os olhos que não enxergam marcas, cores,

validade, peso, modos de uso, nada disso!

Os olhos só enxergam o que convém!

Porque o lixo também está fora da lata de lixo:

o lixo biológico e genético! O lixo do homem.

Bugarim