O Troféu da Posse
 
Até a pouco voava soberana no céu,
beleza selvagem,
força a vencer o vento.
Um homem, falsa valentia,
o grande caçador, a estratégia.
O ridículo que pensa
ser poderoso juiz da vida.
A mira telescópica,
um único tiro, a vitória.
Delírio dos covardes armados,
que se fazem valentes.
Um êxtase pueril
num combate de um só lutador.
Então o troféu, o corpo vazio de vida.
A carcaça abastecida de algodão.
Os restos conservados
para criar a escultura estática.
Velha mania humana
de buscar conquistar troféus.
Nada pode ser livre,
de alguma forma,
tudo deve ser possuído.
O que era um inalcançável vôo,
agora está ali, a mercê das mãos.
Não mais o poderoso bater de asas,
mas o patético objeto inanimado.
Retirado do céu, para ser colocado
sobre um certo móvel da sala.
Adorna de modo macabro
a estante do civilizado caçador.
Mortos olhos de vidro adornando
o plumado animal abatido.
Substituída a liberdade da natureza
pela neurótica posse,
a força da vida, pelo retrato da morte,
a liberdade do espírito trocada
por um punhado de badulaques.
Dia haverá que os caçadores
engolirão os seus troféus,
Ver-se-ão eles mesmos
empalhados por sua ação,
Desejando ver a vida
a vagar liberta pelo céu,
Descobrindo que a poesia divina
É superior ao vulgar
troféu que habita o sua estante.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 26/06/2009
Reeditado em 16/07/2017
Código do texto: T1668639
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