Clima carregado
Rostos lindos, retesados
Sobrancelhas arriadas
Vidas arretadas.

Clima de trabalho, chato
Rouba a juventude,
a jato
Lábios pintados, borrados
Pulsos fixos, esticados.


“Mouses” para lá e para cá, empurrados
Olhos fitos, sem piscarem
Planilhas abrindo e fechando, rápidas
Telefones frenéticos, a tocarem.

Vida de trabalho, insana
Ou trabalho insano, seria?
Incólume para a
velhice, correria
Rugas repuxando.

Semblantes e feições, vêm e vão
Rápidos sem sorriso, sem tempo
Pés ligeiros, mãos retesadas
Beleza proibida, severidade.

Mercado chato, rouba alegria
E os pássaros, os rios e o Sol?
O vento, a vida, os
arcos-íris?
Tudo lá fora,
incompatíveis.

Lâmpadas fluorescentes, aqui
Quadros feios na parede, empoeirados
Pássaros empalhados, por neon iluminados
Realidade sintética, dias trabalhados.

Liberdade, vida, alegria! Impossíveis?
Só na velhice, talvez
Prisão sem grades,
Presos uniformizados, encrachados!

Trabalho, atalho, alho
Aletriz, atriz, bugalho!
Insanidade a paga, talvez
Espelho do banheiro, companheiro.

Prisão sem grades, engradados
Trem, metrô, escrachados
Rush, feriados, apressados
Liberdade da
prisão, do trabalho!