A PROLE DA FÉ
A PROLE DA FÉ
Olhemos atentamente o que ostenta
A imagem transmitida pela tv:
No noticiário noctívago,
O cortejo trôpego da gente
De semblante sulcado, sofrido, álacre, lôbrego,
Mestiço, sôfrego, extasiado, sertanejo e íntegro
Faz ecoar seu religioso cântico
De celebração da vida.
Em cada um deles,
Templos da diáfana credulidade
Se edificam, prosperam,
Irrompem-lhes o DNA,
Cultivando novos jardins da cintilante flor amarela,
Tornando-se, enfim, o núcleo, o entorno
E o todo da sua orgânica matéria.
Por isso, quando quase exauridos,
Em seu dúctil ânimo,
Pelo perverso itinerário de chagas, desgraças e látegos,
Erigido por seu sinuoso fado,
Não optam por se entregar ao refrigerante vácuo,
Á reconfortante quietude infinita
Do prematuro ocaso;
Deixam, ao contrário,
Que a chama da crença
Dome e incendeie seu abstrato cosmo corpóreo,
Metamorfoseando-o no mais inexpugnável dos santuários!
No entanto,
Apesar dos sacerdotes ou zagais da mentira,
Dos paraísos ou oásis
Que segredam as perniciosas areias movediças,
A aura da esperança,
Encerrada no coração
Daquelas pessoas generosas, denodadas,
Transmite respeito, comove, cativa
Um centurião marxista.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA