Vou me juntar a vocês (quebrando as grades da realidade)
Durante a noite que transpõe a noite,
Entre a tosse e o silencio,
Quando o breu abraça os olhos
É que a verdade se despe,
E com a magia do reflexo
Apresenta o medo da lua,
A coragem desarmada e nua
Que seguia até então,
Distancia-se e se perde no fim da rua.
É cansativa a escuridão,
É cansativo gritar em vão
Este brado desafinado,
Que não atinge a hipocrisia dos ouvidos de veludo;
Parece que é outro, o idioma da multidão.
Às vezes balanço, e nem posso julgar;
Estendo as mãos e não alcanço,
O que preciso alcançar;
É solitário caminhar entre a multidão,
Tento-me a mudar
E me pergunto, porque não?
Vou me juntar a vocês;
Baixar a cabeça,
Entrar nesta fila imensa,
Nem que ela leva á vossa,
E isto o que importa?
Plantamos flores para disfarçar o cheiro
E esconder a bosta.
Vou me juntar a vocês;
Cobrir meu corpo com panos nobres
Para esconder minha alma pobre;
Vou doar o que sobra,
Esquecer os farrapos nas calçadas,
E rezar para que deus devolva minha doação com dobra.
Vou me juntar a vocês;
Quando não houver ninguém por perto,
Vou passar a perna no próximo
E ser julgado “o esperto;”
Adormecer minha culpa em consolos traja preta
Enquanto tramo outra nobre faceta.
Vou me juntar a vocês;
Vou me esvair em sangue e suor,
E no fim do mês;
Juntar o que sobrar
E levar minha família para jantar;
Será tão bom
Que a indigestão me fará sorrir.
Vou me junta a vocês;
Esquecer-me das estrelas,
Quando o sol nascer, vou sair;
Quando ele se por, vou dormir;
Quando a vida cantar, vou me fingir de surdo;
E quando ela chorara, vou me afogar em lagrimas.
Vou me juntar a vocês;
Sonhar o sonho alheio,
Passar o domingo inteiro,
Masturbando minha mente,
Criando calos em minhas nadigas dormentes,
Enquanto a programação segue o roteiro;
Quando chegar a segunda
Vou morrer em meu próprio pesadelo.
Vou me juntar a vocês;
Vomitar o que eu nem posso ser;
E quando o barulho aumentar,
Vou me esconder debaixo dos cachos de Deus;
Pedir perdão pela contradição,
Continuar atirando “sem intenção,”
Com balas que tem o meu brasão.
Vou me juntar a vocês,
E trocar o prazer do risco
Pela segurança cômoda e patética;
Vou assassinar minha alma e ser “normal”.