ARPEJOS SEM PERSPECTIVA
A fúria de mudar o mundo
é um boneco desanimado.
Aos mais de sessenta,
sou um maiacovski sem forças.
Tentei o novo.
Surgiu-se-me o fantasma do Real.
Empobreceu-se
de valores a criatura.
Milênio terceiro. Farsa.
Bato à porta do futuro:
neurônios alertam
para o visto, o revisto.
Tinge-se de sangue a janela
da esperança
“a trepada é o lirismo do povo”.
Tempo de asperezas.
O braço que estende a mão ao óbolo
duplica-se, triplica-se, multiplica-se.
A fome vai além do gesto.
– Do livro BULA DE REMÉDIO. Porto Alegre: Caravela, 2011, p. 100.
http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/1648362