Menino de rua
Tua vida é um caminho de estrada pequena,
curvas sinuosas e ladeiras extravagantes,
mas tu percorres em teimosia esperando que adiante
apareçam percalços de características mais amenas.
Os meio-fios dessas ruas são os teus assentos,
a calçada é tua cama onde o teu dorso se acomoda,
e ao dia tu perambulas a margem das pessoas, tão sereno,
uns ainda dizem sem escrúpulos que tu incomodas.
Teus trajes gritam que rejeitam a moda,
teus pés se abstêm de quaisquer calçados,
tua pele é mistura de cor, sujeira e feridas,
a tua expressão de face mostra a tua vida sofrida.
Tua alegria ainda não foi encontrada, anda perdida,
teu sorriso é mais vazio que o teu estômago.
Mas ainda tens sonhos quase impossíveis sobre a vida
que só os conhece a fundo o teu próprio âmago.
É pequena, raquítica e estranha a tua estatura,
mas o teu olhar é forte e de um crime suspeito,
contradiz com a tua penosa e frágil estrutura,
quando apunhala-nos com força e causa dor no peito.