Esperança Desesperada

Esperança Desesperada

O que seria da vida da nossa gente

se não fosse o direito de sonhar!

O que ainda iria nos restar,

não fosse o sonho livre, independente

de um povo que vive amargamente,

lutando por uma fatia de pão,

tão farta à mesa do patrão

e tão escassa à grande maioria!

Se não fosse a esperança o que seria

de um povo que sobrevive de ilusão?

É essa esperança que um dia há de vencer,

enquanto o pobre vai lutando perseverante,

pedindo a Deus e rezando confiante,

na certeza de que um dia ainda vai ter

a recompensa que faz por merecer

e sofrendo, calejando a sua mão

é humilhado à maior submissão

aos caprichos de uma pequena minoria.

Se não fosse a esperança o que seria

de um povo que sobrevive de ilusão?

E se não fosse o milagre da natureza

que acontece no nosso cotidiano,

o que seria do pobre do ser humano

que consegue a tamanha proeza

de transformar em poesia a tristeza,

com rimas e lágrimas do coração

e que é capaz de conceder o perdão

aos gestos da poderosa burguesia.

Se não fosse a esperança o que seria

de um povo que sobrevive de ilusão?

A esperança é a última que morre

mas o povo vai morrendo lentamente

e é triste o sofrer da minha gente:

ninguém liga, ninguém olha, ninguém socorre.

O tempo vai passando e a vida corre

e a luta é lutada, porém em vão,

pois o pobre oprimido, já sem razão,

se alimente apenas de utopia.

Se não fosse a esperança o que seria

de um povo que sobrevive de ilusão?