São Paulo: A Pequena Visão
Olhando esta selva de pedras
eu vejo a riqueza e as fortunas
nos prédios, nas luzes, nas casas,
nas firmas que são as colunas,
no bolso de poucos dos homens
que vivem a vida pra si,
seu ego no ápice está
e nunca parece cair...
Eu vejo as donzelas tão belas
que passam sambando nas ruas
com saias, com topes pequenos
e damas... assim... seminuas.
O jovem de terno e gravata
parece ter um promissor
futuro na empresa privada
que ganha milhõe$ em valor.
O velho que passa no carro
da linha mais alta - importado
- não olha pra o lado jamais,
porque tem seu queixo empinado.
Senhora com roupa da moda
tem medo e já fecha seu vidro,
escuta canção caridosa,
da cútis não sai nenhum hidro.
E eu ando bem como os pardais:
visando ver tudo de vez,
com medo de ser assaltado
por um cidadão não cortês.
Estátuas, prédios, museus,
teatros, cinemas, vitrinas,
as ruas estreitas demais,
pessoas que são peregrinas...
Os prédios que dão para mim
idéias de pura ficção:
Pensou?... eu no último andar
sentado igualzinho à patrão?
Pessoas de cores, tamanhos,
de raças, poder, etinias...
Desfilam nas ruas de negro
asfalto que encobre ambrósias...
E são diferentes demais!
O rótulo chama de: físico.
O físico bom ganha mais
olhar de louvor e mais lírico.
E são diferentes assaz!
O rótulo chama de: roupa.
Quem tem uma roupa elegante
pra o pobre não olha, mas poupa.
E são diferentes demais!
O rótulo chama: costume.
Quem vê cenas tristres assaz
nem chora por não ter mais lume.
E toda pessoa que passa
não olha o menino de rua,
sem lar, sem amor e sem pai:
é a cola que o leva pra lua.
Peraltas, pixotes, ladrões...
Nem quero sitar - agiotas!
Disputam o dinheiro dos justos
mudados pra vis idiotas.
Ao lado, na esquina se vê
a mãe segurando o seu filho:
fedidos os dois, sem comida,
sentido ou futuro de um brilho.
E o povo daqui é soberbo!...
Supera com ódio o amor,
que vive largado num canto
do "eu" já criando bolor.
Um povo de honra e trabalho,
suor tão sofrido na mão,
não vê que a Ternura é bem mais
que cédula assaz, em montão.
Preferem deixar amizades,
amigos que são verdadeiros
por cargos, paixões e luxúria
e deixam de ser bons cordeiros.
Não há mais "bom dia pra todos",
nem "tarde", nem "noite" também!
Reféns de seus medos internos
ou "eu" elevado pra cem?
Pra ser receptivo não dá,
porque meus problemas são meus;
os seus são os seus - nada mais!
E vamos pra trás sem ter Deus.
Seguindo uma moça daquelas...
Que a gente só vê na tv:
de saia, de salto e blusinha,
com charme pra dar e vender...
Fiquei cogitando comigo:
que moça formosa de ver,
requinte abundante no olhar...
Mas logo ela entrou num privê.
Que susto tomei no momento!
Nem sei mais o que quis pensar:
talvez só quisesse carinho;
talvez só dinheiro ganhar...
E muitos dos prédios nos dão,
hilotas sem rei, sem patrono,
idéias de pura ficção:
quem sabe, também, serei dono?
19/05/2005 12h09