A FRIA MANHÃ

a manhã acorda tão branca
nos morros voa a neblina
geada cobre a campina
dói o rosto da pobre menina

tirita o corpo inteiro
tão pouca roupa o cobre
seios nascentes quase à mostra
pernas bambas roxeadas

não sustentam ossos nem músculas
senta na relva da praça
a noite passou sem graça
nenhum cliente quis transar

a fome machuca a existência
tivesse sido um aborto
ao menos não ficaria neste horto
como um ser crescido morto