A tarde morre...

A tarde morre ...

A morena bela vai dormir

Sozinha na noite da favela

Não há para quem sorrir

Pois mataram o homem dela.

A turminha scente

Um dia já foi gente inocente

Não vamos falar, some gente

É só eles estarem descontentes.

Ruas desertas, calçadas vermelhas

Corpos que rolam, sirenes choram

Até os que às vezes esmolam

Fogem daqueles que super lotam

Nossas mentes, nossas gentes

Maltratadas, apavoradas, embriagadas

Entorpecidas, desmaiadas, distorcidas

Lembranças esmagadas, semi-adormecidas.

Os dramas coletivos ardem na fogueira

Da existência passageira

Milhões de bôcas de fogo lutam

Sugam, a vida rotineira.

A terra está toda lavada de sangue

Tornou-se um mar vermelho

A procura de um novo redentor

Para abrir caminho sobre sua dor.

Iluminar o mundo, acender a chama

A multidão foge, grita e clama

Fim ao terror! acabem com este horror!

No último estertor ainda reclama.

Chega de tanta fome, miséria, destruição

Violência, ódio e desconstrução

A humanidade vive em aflição

Precisa de afeto, consolação.

As mães de maio estão de luto

Arrancaram-lhes o coração.

Deixaram apenas a destruição

Um raio de morte, sofrimento.

Lençóis mudos, travesseiros assustados

Cobertas roubadas, por vozes sussurradas

Mãos que se escondem,

Pensamentos perambulam, traumatizados

As violentas ruas, na madrugada

Silenciosas, perigosas e atrevidas

Para as pessoas desavisadas

Em um trago suga-lhes a vida.

Nossos dias rotineiros e trigueiros

Acabaram-se, estão tal qual

O homem da morena solitária

Morreram numa tarde fatal.