Releitura de San Vicente

Eu tenho a consciência latino-americana

De um povo que sempre viveu em opressão

Outrora ditaduras infames em nome do império capitalista

E hoje vítima de políticos profissionais

Que se escondem atrás de interesses de grupos dominadores

Que dividem a riqueza do país em um bolo vultuoso

Que só serve para alimentar os seus pares

Respiro ares de desconfiança

Desde os tempos em que ainda era criança

E percebia algo de estranho no brilho dos coturnos

Um cheiro de podre no ar

Aquele indigente torturado e jogado na calçada

Servia para impor as circunstâncias de um negro momento

Respiro ares de desconfiança

Desde que o processo de redemocratização do país

Jogou-nos de goela abaixo aqueles que sempre estiveram

Ao lado de nossos algozes

E em momentos propícios posaram de heróis para os flashs

Das máquinas que não registraram as suas ações pregressas

Faço parte desse povo que ainda tenta encontrar vitória na honestidade

Embora a máquina martele em nossa cabeça a incompetência de que nos acusam

Sou vítima do flagelo da ditadura

Que pela sede do poder em nome de outros

Fez-se presente em usura

Fez-se regra em conduta

Fez-se ferida no peito da nação

Que ainda não acordou do sonho de carregar um fardo pesado de desconstrução

Desconstrução de um Estado

Desconstrução da pessoa humana

Desconstrução da dignidade daquele que pretende ser cidadão