Memórias de um viciado
De quando em quando busco ajuda
Mas ninguém ouve meus apelos.
Eu vendo balas, chocolates...
E malabares também faço,
Mas para eles sou só um traço
Do que se desenha na sociedade
Sou apenas sombra nessa cidade
De quando em quando.
De quando em quando fico isolado,
E chego a fugir de meus amigos.
O meu relógio de cinco kilates
Renderia-me um almoço farto,
Mas não consigo medir meus atos
E troco por um punhado de felicidade
Que me faz crer que não estou mais isolado
Só de quando em quando.
De quando em quando papai desconfia
E mamãe pergunta de onde vêm os gemidos?
Que algumas vezes ela ouve de tarde e
Se sou eu quem fico chorando no quarto
E se eu me lembro que tenho estado
Tão distante das minhas vontades
Da boa família que me conduzia
De quando em quando.
E eu respondo que já é tarde
Meus braços roxos se atrofiaram
Minha mente encheu-se da agonia
De ter usado o que não devia
O que me levou ao desfecho trágico
De uma morte prematura e fria
Que não cessou à diplomacia
Nem se vendeu à minha riqueza
Que me fez perder a beleza
Da juventude que tive um dia
E logo que daqui eu partir
Haverá outros jovens a meu exemplo
Que morrerão tristes em desalento
Por se entregarem a um punhado de alegria
E por uma triste ironia
Não terão chance de retorno
E encontrarão a dor da morte em torno
Daqueles que os fizera feliz um dia
Mesmo que de quando em quando...