O CRIME NOSSO DE CADA DIA

O CRIME NOSSO DE CADA DIA
Jorge Linhaça

Quem nunca viu, ao andar pela rua,
Num canto sujo, escuro e sem luz,
Um viciado pregado na cruz
Realidade atroz, nua e crua!?

Quem nunca fingiu não ser culpa sua
Evitando-o qual bolha de pus
Como Judas condenando Jesus
Travestido de playboy ou perua.

O crime nosso é o de a cada dia
Fingirmos não ver o mundo ao redor
De achar que um estranho é pior
Escondidos em nossa hipocrisia

Quando um pequeno gesto poderia
( Se executado com sincero amor )
Dentre os espinhos descobrir a flor
Que a aparência tão suja escondia

Onde falta amor, floresce o crime,
O mal escorre por entre as frestas
E nós contentes c'os restos das festas
Pomos as culpas em qualquer regime

Assim caminha a humanidade
Fingindo não ver, ouvir ou falar
A própria cova feliz a cavar
Alheia às ruas de suas cidades

O crime nosso de todos os dias...
O dia a dia de tanta omissão...