Sorriso Banguelo
O canário é um armário vazio
O amarelo do Brasil
Está nos dentes dos famintos
De quase duzentos milhões de mendigos
Onde também estão os buracos
Buracos do desuso
Povo sem parafuso
Que com tudo, todos os cacos
Samba, joga e sorri singelo.
Ainda samba, joga e sorri banguelo.
Nas profundezas deste país
Há lugar tão infeliz
Que se vê e talvez seja engano
Rugas de vinte anos
E esses moços são
Bem ou mal
Exemplo patriotal
Porque tem emprego
Tem mesmo é escravidão
Samba, joga e sorri singelo.
Ainda samba, joga e sorri banguelo.
Logo cedo se aprende
Que enfrentar o batente
É a melhor lição
Não vão pra escola não
Pra ver que furo
Terão em seus futuros
Samba, joga e sorri singelo.
Ainda samba, joga e sorri banguelo.
Pra quem não tem onde morar
Papelão é lar
Ou favelas
Que todo dia ascende a vela
Pra velar seus defuntos
Que agora ao menos habitam
Um luxuoso caixão da prefeitura
Porque se a vida não o destruiu
O verme e a terra o trituram
Já não se samba, não se joga e não se sorri.
Nem singelo e nem banguelo
De forma alguma