Sorriso Banguelo

O canário é um armário vazio

O amarelo do Brasil

Está nos dentes dos famintos

De quase duzentos milhões de mendigos

Onde também estão os buracos

Buracos do desuso

Povo sem parafuso

Que com tudo, todos os cacos

Samba, joga e sorri singelo.

Ainda samba, joga e sorri banguelo.

Nas profundezas deste país

Há lugar tão infeliz

Que se vê e talvez seja engano

Rugas de vinte anos

E esses moços são

Bem ou mal

Exemplo patriotal

Porque tem emprego

Tem mesmo é escravidão

Samba, joga e sorri singelo.

Ainda samba, joga e sorri banguelo.

Logo cedo se aprende

Que enfrentar o batente

É a melhor lição

Não vão pra escola não

Pra ver que furo

Terão em seus futuros

Samba, joga e sorri singelo.

Ainda samba, joga e sorri banguelo.

Pra quem não tem onde morar

Papelão é lar

Ou favelas

Que todo dia ascende a vela

Pra velar seus defuntos

Que agora ao menos habitam

Um luxuoso caixão da prefeitura

Porque se a vida não o destruiu

O verme e a terra o trituram

Já não se samba, não se joga e não se sorri.

Nem singelo e nem banguelo

De forma alguma

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 27/04/2009
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