Menino de rua

Opa!

Venha

venha cá

menino de rua

e diga á quem dó

de ti

tenhas,

que fazes perdido?

Tu que vives entre estruturas

no ventre das calçadas.

Em noite enluarada

te encontro fundido,

vivendo, se esquecendo

a cada instante.

Donde estás os teus sonhos?

Vives de ilusões,

ou tudo já

é em teu doce olhar

decepção?

No compasso da espera

sem pai

tendo apenas

o calor dos jornais

como tua mãe.

Já não é mais inocente,

mas venha

conte cá

donde estás tua gente

ou és meu sonho adormecido

que por horas desperta?

Meu, dele, nosso.

Levante

pensamento de justiça

a tua causa

sangue já tão esquecido.

Não, não venhas.

Vá.

Tenho medo de ti

que cruzas meu caminho

e não mais me deixas

sozinho.

Menino de rua,

e não chores

por ti

mas por mim

ventre sangrento

da terra

que gerei

tão vil intento

terno instante

de pensar eu

que poderia

esquecer e voltar ao eu

de antes de ti,

a ser como dantes.

Vá..