Intrigante mendigo
De onde vêm esses pés descalços,
enegrecidos com terra, enlameados,
com calos vindouros de tantos percalços,
somente de feridas e cortes entornados?
De onde vêm essas rugas na testa?
Linhas grosseiras formando relevos.
Jovialidade nenhuma aparente te resta,
só os sinais de muito tempo, eu percebo.
De onde vêm essas mãos dantescas?
Com unhas sujas e longas, ou unha nenhuma!
Essas mãos que fazem apelações gigantescas
a qualquer um que transita em tua frente na rua.
De onde vem esse olhar tão tristonho
que penetra-nos logo atingindo o peito?
Parece que perdeste todos os teus sonhos,
e só à miséria, dor e tristeza está sujeito.
De onde vem essa boca inexpressiva?
Boca de lábios incolores, cortados e quase imóveis,
que só manifestam sussurros d’uma fala escondida,
que anda entre os espaços dos dentes procurando saída...
Intriga-me tanto de onde vem, figura estranha
que me aborda na rua, pede esmola e alguma ajuda.
Causa-me desespero que me alcança as entranhas
quando me vejo incapaz de ser alguém que te acuda.