RESTOS
Quem disse que isso é vida, meu Deus?
Catando restos das vidas dos outros
Reaproveitando o que jogaram fora
Buscando lixo dentro do lixo
Sem se dar ao luxo de se proteger?
A vida é um enorme e fétido lixo
Que o que não presta para um
Deverá precariamente servir ao outro.
Cada um tem aquilo que merece
Mas nem todos merecem aquilo que têm
E todo dia o mesmo vai-e-vem
Atrás de plástico papelão e cacareco
Pra revender em troca de alguns reais
Que realmente farão diferença no fim do mês
Ou servirão para a cachaça do dia...
Maltrapilho, moribundo e rústico
Lá vai ele com seu carrinho imundo
Cheio de tranqueiras imundas
Que, com esforço, ele catou na rua
E nem os odores ele sente mais...
E isso lá é vida, meu Deus?
Catando lixo, perambulando pela rua
Numa imundice gritante, nua e crua
É essa a realidade de um mísero ser
Que cata os cacos alheios para viver...
Elaine Thrash - 2004