Vestido sob poemas...

Dedico este quase poema em especial às poetas da Galiza, de Portugal e do Brasil ou, vice-versa, do Brasil, de Portugal e da Galiza. A culpa é da Concha e do seu poema «Espida no poema»...

Eu, cara, igualmente procuro

mascarar-me sob poemas:

Digo que amo e que desejo

e que o céu está azul,

mas na realidade...

Também parece que assinalo, inominadamente,

amada e pele e cetim e passadiços de paixão

(que são ínvios), mas só parece...

Porque, tímido na vergonha, me oculto trás cada palavra,

trás cada letra até... Sobretudo me agacho, engrunhado,

nas vogais e, das vogais, "o" é o melhor meu esconderijo,

o meu recanto mais prezado...

"O" e acaso sob a ponte dos "m" e "n", como esmolante;

também nos aros dos "p" e "q", como se fossem capazes

de me erguerem até algum coração

redondo, quase como um "O".

As outras letras parecem-me

muito abertas, contrárias

ao anelo por me

mascarar...

Cara, caminho sempre vestido...,

vestido mal, mas vestido.

Não tenho as carnes

para as amostrar

desnudas...

É a vida e talvez a idade. Não sei...

Acho que ninguém tem por que nos reprovar.

Opino...