Vazio

O mendigo estar a pedir esmolas na calçada de um banco,

Os transeuntes o-ignoram;

O vendedor de balinhas estar a andar nos ônibus tentando vender o seu produto,

Os passageiros estão a passar sempre com pressa;

O flanelinha estar a fazer gestos frenéticos para atrair a atenção dos carros,

Os carros passam ou saem do estacionamento sem lhe dar atenção;

O malabarista está no sinal fazendo a sua arte,

Os motoristas se fingem de distraídos mas estão sempre com pressa;

Os limpadores de vidro-de-carro realizam o seu trabalho,

Os carros com vidros limpos e fechados andam sem parar;

O pobre fala de sua condição miserável na tentativa de receber alguma ajuda,

O povo ou é pobre demais ou pouco solidário para poder ajudar;

O bêbado com a sua garrafa na mão diz coisas desconexas:

“Estão todos embreagados pela fome, pela miséria, pela solidão, pelo estudo, pelo trabalho. Se embriagar é uma distração, estão todos perdidos, e o futuro foi extraviado, esperança ninguém tem, tristeza mora ao lado”.

O poeta está ficando rouco de tanto recitar sua poesia,

O trabalhador ouve as ordens vazias de seu patrão,

O povo ouve os discursos falaciosos dos políticos,

Os fiéis ouvem os sermões hipócritas dos padres e pastores,

O filho ouve o conselho inseguro de seus pais,

Na verdade todos têm nada a dizer,

Todos apenas fingem que ouvem,

Estão todos fingindo que vivem,

Apenas seguindo essa mecanicidade,

Tudo é de mentira,

Nada é de verdade,

Não procuram mais saida,

Estão conformados demais com essa automaticidade.

Vivem todos num vazio,

Que se enche de ausência,

Ninguém percebe nada,

Cada um aceitou sua sentença,

A humanidade está desesperada,

Mas disso não se tem consciência.

Itaci Silva Camelo

Itaci ISC
Enviado por Itaci ISC em 23/04/2009
Código do texto: T1554949
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