As crianças do meu Brasil

As crianças do meu Brasil

As crianças do meu querido Brasil como andam?

Andam pelas ruas jogadas, esquecidas, viciadas

em cheirar cola, em fumar crack, maconha, cigarro...

Beber cachaça, roubar, furtar para sobreviver,

pois são esquecidas pela sociedade e pelos pais adeptos de satã.

Vivem como o diabo gosta... e como ele aplaude!

Sem ninguém para educá-las, para ensiná-las na Verdade;

comem lixo, cheiram vento e tornam-se violentas;

mas um bando de violentos cheios de sonhos, de esperanças,

porque toda criança tem esperança; porque toda criança tem

a fragrância da ignorância que o adulto não tem, mas

que é bela, sincera, singela, cor de ouro – amarela; cor

do arco-íris; cor do amor; cor colorida; cor de resplendor;

cor do sonho da estória da pequena jovem Cinderela.

Mas as crianças do meu Brasil não vêem os pássaros cantar,

não olham às coisas boas da vida, pois o meu Brasil as fere

com cegueira para que não vejam as maravilhas que nele há.

... e as onze da noite, a menina, com apenas sete anos é explorada

pela mãe dentro do trem, porque pede esmolas, afinal ela também

carece de suprimentos ou talvez careça de pinga para aliviar

um pouco a realidade escura e amarga que ela traz, quem sabe?

Quem vai saber por que de tanta humilhação, de tanta petição?

Talvez seja para suprir o vício ou talvez aquela mãe usa a criança –

sua própria filha – para pedir, assim ganha um dinheiro e,

assim não precisa ir trabalhar de manhã de verdade; ou talvez

ela também não tenha conseguido nenhum emprego pra se sustentar.

Onde está a justiça e a lei de ti, ó querido Brasil?

Tu não vês que este lindo-dengo de menina

mais tarde poderá se transformar numa felina

e atacar as cãs de quem um dia já foi juvenil?

Tu não vês que este dengo de menina esperança

pode se transformar em venenosa lança

e ferir a ti com uma astúcia insana e hostil?

"Nana nenê, que a cuca vem pegar..." mas a "cuca" já pegou;

mas ela não dorme no horário certo;

mas ela não brinca no horário certo;

mas ela não estuda no horário certo...

mas a escravidão já acabou!?

Acontece que para as crianças pobres ela apenas começou.

Pânico!...

Medo!... Frio!...

Desconsolo!...

Desolação!...

Desrespeito!...

Desaconchego!...

Desprezo!...

Desatino!...

Descaso a overdose ela recebe!

Mas descanso na hora certa não recebe jamais!

Por que dizem que não se cansa?

É...

Mas tudo de podre, de peguilhento, de pejorativo,

de torvo, de turvo, de tosco

ela recebe, ela ganha sem pedir, sem merecer,

sem fazer nada para obtê-lo, sem ao menos precisar ou querer.

Onde está a justiça e a lei de ti, ó querido Brasil?

Olhos tristes, sofridos, medrosos e vergonhosos

são os olhos das nossas crianças!

Eu não agüento ver a menina que pede tanto por favor; tanta esmola:

Um pãozinho...

Uma coxinha...

Um pastel...

Um suco...

Um refrigerante...

O que puderem me dar...

... e o Natal se foi... e miséria prevalece;

ela sempre prevalece,

nunca fenece,

sempre nos empobrece,

mas sempre traz mais lixo para nós comermos.

E o Natal se foi... mas àquela outra menina de pele escura estava trabalhando,

fazendo o seu papel de todas às seis da tarde,

que é pedir "por favor, me ajude".

Ah, eu não agüento! Eu não posso ver! Eu não pude ver

e me derramei aos prantos nos pés do meu Senhor:

Tenha misericórdia, Senhor, daquela menina de pele escura

que estava embaixo da escada rolante pedindo por um favor de

um desconhecido qualquer,

porque ela também foi criada por ti;

porque o Senhor também morreu por ela um dia na cruz do Calvário. Perdoe-me grande Deus por não poder fazer nada;

por recusar dar minha condução de volta

à minha casa humilde, pois minh’alma está muito abatida.

Capacite-me para eu poder ajudar da próxima vez,

porque é melhor dar que receber.

Pois quem dá tem, e quem recebe, é porque não tem.

Onde está a justiça e a lei de ti, ó querido Brasil?

Que não olha o caminho, os trilhos do trem aberto

e as crianças brincando no meio com futuro inserto?...

Prestes a não chegarem ao estágio juvenil?...

Onde a força, a capacidade, a sede de viver

chega e pode, então, criar coragem para vencer

esse mal das trevas insana, lúgubre, vil?

Porque o estatuto da criança não é cumprido

de nenhuma forma, de nenhum jeito ou sentido,

pois eu vejo tudo ao contrário nesse trem que partiu...

Que partiu somente para ir e nunca vir

levando a glória, o resplendor, o sorrir

desse pequeno povo pobre, humilde, infantil.

Onde está a justiça e a lei de ti, ó querido Brasil?

Por que maltratam os pequenos na maldita Febem

levando a desgraça às suas pobres mentes reféns,

herdeiras da maldade que você mesmo pariu?

Tu não vês que eles sofrem constantemente

sem futuro brilhante, somente com o mal-presente

que os levarão a ser um horrível ser hostil?

Quando as pobres poderão sorrir de plena felicidade?

Quando as pobres não correrão o risco de morrer nas ruas,

nas calçadas, nas Vias, nos trilhos, nos casebres abandonados,

nos viadutos, nas praças, nos cortiços dos centros ou nas periferias?

Quando as pobres poderão ter a plena liberdade

de escolher se querem ficar despidas, na maldade nuas,

ou serem um trabalhador, um estudante, um advogado

ou o que for, mas sem serem vítimas da irreal fantasia

que você produz aos seus pequenos corações sonhadores

com um futuro cheio de belas, cheirosas, coloridas flores,

porque elas querem a todo custo a boa primazia.

Olhe para elas, querido Brasil de todos!

Elas são indefesas ainda;

porque elas não têm malícias;

porque elas não têm milícias;

mas são vítimas de suas polícias,

de suas políticas, do seu poderio, do seu império injusto.

Seja você, querido Brasil de todos, e olhe para si mesmo.

Você quer continuar sendo assim deste modo tão tirano?

Você quer continuar usurpando os inocentes de classe baixa?

Aplaque um pouco este seu jeito egoísta, insano, idólatra

e olhe para o verdadeiro Deus, pois Ele é a sabedoria

e o mínimo que você adquirir do Ser Supremo poderá

mudar toda essa história triste de quinhentos e três anos

de sofrimento, de maldição, de miséria e de terrível dor.

Não olhe para este poeta pecador, mas olhe para seu povo

que te ama de todo o coração; que te quer por inteiro;

que clama todos os dias por mudanças:

Mude o código penal;

mude as leis de transito,

faça a reforma agrária,

mas comece pelos grandões de ti,

porque eles ditam,

eles criam e se beneficiam com leis injustas e podres,

feitas para proveito próprio.

São eles mesmos!

Olhe para esses pequenos lindos, futuristas, alvos...

Eles merecem!

Eles precisam!

Eles fazem parte de ti!

Ah, eu sou um poeta cheio de boas esperanças,

talvez eu me considere uma ingênua criança,

sem maldade, sem crueldade, sem o mal vil...

Ah, eu não consigo ficar sem te perguntar

a mesma pergunta que no poema ficou no ar:

Onde está a justiça e a lei de ti, ó querido Brasil?

17/03/03 14h37min

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 22/04/2009
Código do texto: T1554166
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