O agreste pede socorro
O chão rachado e seco
Ervas daninha não há reza
O verde o artista esqueceu
No quadro que a chuva despreza
A enxada que quebra no esforço
De cavar um buraco na terra
Não há visão de esperança
Mas o sertanejo acende a vela
No ato de alucinações e loucura
Sopra a poeira no fundo do tacho
Come palma e embebeda-se em lágrimas
De sobremesa come um pouco de barro
A paisagem aterradora fala
Urinem em mim quem sabe desabafa
Cem graus Celsius não há vida
Eu suplico por um cuspe ou uma baba
Mas se os rios que me refrescavam
Hoje poças de lama ou nem isso
Era uma fartura de peixes
Assemelhando-se ao grande Nilo
São apenas recordações,
Que saudade desse tempo,
O qual tudo dava nessa terra
E quem arava os grãos era o vento
Com o destino marcado na cruz
Hoje o que nasce é pé de gente
Criança se mistura a ossada de boi
E já nasce como indigente
Seres humanos morrem de fome
Almas ferventes padecem de sede
Ninguém sabe, ninguém viu
É o anonimato do verme procede
Mas se acalmem!, estou escutando algo
É o barulho que move a esperança!
que mudará o futuro do sertão
E quebra o silêncio a urna eletrônica.