O povo
O povo olha mas não vê, é cego
O povo fala mas não pensa, é bobo
O povo erra mas não diz, é o ego
O povo é muito mas ainda é pouco
O povo teme os seus empregados
O povo grita com os lábios cerrados.
O povo reclama,
Berra e faz birra
O povo é louco, Deus, o povo é louco!
O povo omite-se de seus problemas
O povo esconde seu berro obscuro
O povo é desculpa, é um povo apenas
O povo urra, o povo é um murro
O povo escorre por entre seus dedos
O povo escarra os seus próprios medos
O povo exclama!
Mas não sabe o que é exclamação.
O povo é burro, Deus, o povo é burro!
O povo não se basta na poesia
O povo esconde-se na sua latrina
O povo é nojo, o povo é novo.
O povo é povo, é lixo, todo dia
O povo é o reflexo do caos
O povo é longe.
O povo é massa inútil e obediente
O povo é peso morto.
Dessa sociedade demente
Desse governo contente.
Dessa loucura indecente que invade nossas casas
e nossas mentes.
O povo é brincadeira! O povo é piada.
O povo é corrosivo, é maresia.
O povo é passivo e não é culpa sua.
O povo é fruto da democracia deturpada.
O povo é o povo. O povo é a rua.
O povo é nada, Deus, o povo é nada!