O velho!
Olhar cansado, desconsolado
Numa face bem esculpida e suada
De um ar assim meio que esgotado
Na alma sofrida e bem vivida
De sorriso suave e tristonho
Vagueia pelas vias sem destino
Percorre e cambaleia seus passos
Como se fora ainda um menino
Suas rugas mostram que já é velho
Mas é para lá de muito do esperto
Sabe tudo da vida e mais o resto
Distingue bem o errado do certo
Senta-se ao pé de uma lareira
E conta histórias de encantar
Todos o ouvem com atenção
Tanta que acabam por chorar
Sua narrativa são lembranças
Do seu belo tempo de criança
Algumas são até bem tristes
As das privações que persistem
Mas nada assim de pasmar
Porque assim é a vida na lida
Tudo o que teve de enfrentar
Nessa sua aparente tristeza
Olha para o imenso vazio
Desfia todos os fios do pavio
Contando a todos o que sentiu:
- Eu sou velho, mas não sou tolo
Sei bem daquilo do que falo
Gosto de contar o que vi e vivi
Não escondo e nunca me calo
- Se aparento ser triste agora
É porque tive uma vida feliz
Ouve-me, jovem, com atenção
Se quiseres ser meu aprendiz
- Devo dizer-te a vida não é fácil
Para quem nela estão e sempre ralam
Olha para ti próprio e lute com garra
Segue o teu coração e o que dele exala
Percebe-se que seus conselhos são sábios
Para os que querem não só apenas ouvir
Mas apreender o que trás ali de experiência
Embora outros se assustem achando demência
E comecem no deboche perdendo a paciência
O velho a tudo repara com perfeita ciência
Sabendo como todos têm e possuem o medo
Diz então como numa surpresa sussurrando:
“Vou-te contar um segredo”:
- Não fujas do teu próprio destino
Que a vida acaba por te apanhar
Segue este conselho que vou te dar
Põe-se o velho astuto a falar...
- Tu um dia serás como eu sou
Sê paciente e terás a sabedoria
Serás dotado de tuas experiências
E saberás viver com sabor a alegria
- Não te deixes apanhar ou fraquejar
Pelo mau destino a perseguir em desatino
Ouve com atenção à mente e ao coração
Segue com passos firmes o teu caminho
E sê fiel ao amor e aos amigos... Sempre!
Dueto: Catarina Camacho e Hildebrando Menezes