Pomar e cemitério

Pomar e cemitério

Estamos criando pequenas preciosidades

Apenas para morrer?

Fabricadas em serie

Rebanho sem fim?

Escondi minhas fissuras, minhas vilosidades

Manipulei ingredientes em uma argamassa

Fiz uma mistura homogênea

Perdi o que me fazia sagrado.

Formam-se malditas oportunidades perdidas

Já não sei se sou uma parte da cura

ou uma parte da doença.

Já não posso ser o câncer e a quimioterapia.

Um pomar e um cemitério.

Criando pequenas preciosidades num instante

Sacrificando-as no outro em nome da fome.

Alimentando a besta que me devora.

Um Fordismo humano desumanizante

Neste cenário nefasto abissal

Participo do banquete estéril

Daqueles que apenas sobrevivem.

A meia luz da madrugada.