DISCURSO DOS HIPÓCRITAS
Hipócritas, g e n e t i c a m e n t e hipócritas,
pois acometidos de canalhice congênita,
eles se juntam à beira dos interesses próprios,
num festival de toma-lá-dá-cá, gente besta.
Hipócritas, p o l i t i c a m e n t e hipócritas,
vestidos de lábias parlamentares, quando,
ainda nos palanques, prometem babilônias,
educação e saúde para todos, terra e trabalho.
Hipócritas, s o c i a l m e n t e hipócritas,
ao engendrarem mixórdia de salário mínimo,
o mínimo que não dá para as minimíssimas
condições de vida, sequer vida subumana.
Hipócritas, e c o n o m i c a m e n t e hipócritas,
só se detêm nas cifras fantásticas que bolam,
nas negociatas à surdina dos seus cálculos,
nas empreitadas dos áureos e grandes cartéis.
Hipócritas, m o r a l m e n t e hipócritas,
posto não terem noção exata nem medida da ética,
tampouco da estética, nem dos valores humanos,
já que sua cabeça resume-se ao teor das vantagens.
Hipócritas, i d e o l o g i c a m e n t e hipócritas,
calhordas sem convicções nem princípios sãos,
porque refletem com cérebros de rapinas
e tomam dos ventos quaisquer direções partidárias.
Hipócritas, f i l o s o f i c a m e n t e hipócritas,
porque seu pensar e agir são paródias bobas,
temas apodrecidos em forma de “modernidade”,
arremedos de pensamento e doutrinação neoliberais.
Hipócritas, b i b l i c a m e n t e hipócritas,
porquanto vendilhões das nossas estatais produtivas,
lobos amoitados na pele de representantes do povo,
ultrajando, no serão das sessões, o breu da consciência.
[Publicado em O POVO, Fortaleza, Cad. “Jornal do
Leitor”, p. 4, 08/12/1996 (império FHC)]
Fort., 15/03/2009.