IRREVERSIBILIDADE
Aí, a chuva caiu...
E molhou o que havia de molhar
O que era seco e o que não era
E lavou o que havia de lavar
O que era sujo e o que não era
E arrastou o que havia de arrastar
O que era sólido e o que não era
E a casa ruiu
No morro e na cidade
E o chão se abriu
No barro e no asfalto
E o corpo imergiu
No barraco e na mansão
E houve os que choraram
Os que com lágrimas e os que não
E houve os que rezaram
Os que com fé e os que não
E houve os que não se importaram
Os que com indiferença e os que não
E a noite encerrou o dia
Arrastando a tragédia
E o sol raiou novamente
Arrastando o cotidiano
E o jornal exibiu a manchete
Arrastando a tiragem.
E o vendedor de guarda-chuvas conferiu sua féria.